04 outubro, 2012

PALHAÇAS, BEM-VINDAS SOIS VÓS Estudo prático da Comicidade Feminina 2ª edição


Os primeiros seres cômicos, na origem da mitologia, eram mulheres.” Afirma Franca Rame que nos conta que a tragédia, em sua forma arcaica, foi criada por mulheres, e num detalhe surpreendente, incluía na origem um elemento cômico: “O rito eleusínio, forma primária do espetáculo trágico, nasceu para celebrar um jogo bufo inventado por uma jovem, bastante espirituosa, com o intuito de livrar Deméter do desespero. [...] Baubo – no rito eleusínio, chamada de “a filha-da-terra” – despe-se e pinta no ventre dois grandes olhos, um nariz e, pouco acima uma boca... [...] esconde o rosto e os seios com raízes, simulando uma imensa cabeleira sobre o falso grande rosto. Balança as ancas, estufa e retrai o ventre, improvisa uma dança de caráter obsceno e canta versos picantes para a deusa. Deméter sorri... aliás, ri e diverte-se. A “filha-da-terra” consegue livrar a mãe-terra da tristeza. É o início do retorno da alegria e da vida na criação... no mundo dos homens.* 

A presença feminina na palhaçaria é uma tradição recente, mas que tem crescido com uma força extraordinária e renovadora desta arte. Na sociedade moderna, quase sempre vimos a comicidade sendo veiculada pelo gênero masculino. Histórias subterrâneas como esta, atestam que o papel da mulher como provocadora de riso esteve e está além do que vemos. O que estaria pulsando hoje em tantas mulheres atraídas pela arte da palhaçaria? A comicidade feita por mulheres é diferente da comicidade masculina? Que especificidades estão presentes no humor feminino? Há um humor tipicamente feminino e encarnado por mulheres?

O curso Palhaças, bem vindas sois vós - Estudo Prático da Comicidade Feminina, em sua segunda edição, é um espaço de encontro e troca, para refletir e potencializar este fazer, estimular e aperfeiçoar descobertas, pois uma das dificuldades no desenvolvimento desta atuação específica é a escassez de referências, pela predominância do arquétipo do palhaço atrelado ao masculino.

A arte da palhaçaria alcança uma esfera que transcende o nariz vermelho, figurino e maquiagem, e toca o centro da humanidade de cada um. É esta humanidade exposta e dilatada, leva ao riso, à comoção, à transformação, à revolução. Sendo assim, tanto quanto são os diferentes seres que existem, é a diversidade de estilos que marcam a amplitude deste fazer. Se a matéria prima do palhaço é sua própria humanidade, essas diferenças constituem potenciais para serem explorados e lapidados. São, justamente, as particularidades de cada indivíduo que irão delinear o seu fazer. A comicidade feita por mulheres deve ser refletida a partir desta esfera essencial. A questão do sexo, mais que uma dificuldade, pode ser vista como um desafio criativo para as mulheres que se questionam como lidar/explorar/expor o corpo.  Além dos temas universais que tocam a espécie humana, as palhaças podem brincar com seus imaginários descobrindo sua comicidade, colocando seu jeito de fazer, e construindo um saber específico que as conduzirão a uma autonomia criativa.

O curso, ministrado pela artista Felícia de Castro, tem um caráter vivencial e será desenvolvido a partir de três pilares que vêm sendo aprofundado em sua pesquisa pessoal: sensibilização corpo-mente (semente do desejo: a flor da pele e do querer), ativação do imaginário através do corpo/voz (processos de encarnação), e geração de material criativo/criação de cenas (dança da união ou princípio da fusão/tradução). O estudo abordará a comicidade feminina e suas especificidades, a partir do estímulo de um caminho pessoal e da independência criativa. É um espaço para aprofundar e expandir o repertório de ações e reações, qualidades de energia, e a imaginação de cada palhaça. Combinando elementos da técnica do palhaço, do teatro físico, da pesquisa vocal, da dança Butoh e das brincadeiras, cantos e danças brasileiras - campos de pesquisa da condutora do trabalho -, os encontros enfocarão o aspecto Físico – Emocional, buscando a organicidade, a dilatação da presença cênica e a fluência dos impulsos, e o aspecto Criativo, envolvendo improvisação, geração de material, e composição. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário